[MÚSICA] Eu me chamo Ayako. É o meu nome de registro e quem colocou esse nome mim foi a minha mãe e ela escolheu esse nome porque eu nasci Julho. Julho, no Japão, é o mês das letras. Então, Ayako, se eu for traduzir para o português, seria filha da letra ou filha da literatura. Eu nasci no Japão. Meus pais também são japoneses. Só que eu vim aqui pequena, com uns quatro para cinco anos de idade. [MÚSICA] Eu quis, na adolescência, porque o meu nome termina com 'ko', com 'o', e, na minha época, as pessoas achavam que todo nome terminado com o 'o' no final era nome masculino, isso aqui no Brasil. Então, eu tinha vergonha, então eu queria que o meu nome fosse Paula. Então, eu ia para alguns lugares. Quando eu sabia que ia ter algum problema com o meu nome, daí eu falava que o meu nome era Paula. >> Então algum momento da sua vida você usou o seu nome social. >> Mentindo, né? As pessoas que eu não conhecia eu me autodenominava Paula. [MÚSICA] Então, às vezes brasileira, às vezes japonesa. Acho que 80 por cento brasileira. Oitenta por cento. Acho que esses 20 por cento tem mais haver com o aspecto do viver sociedade, que tem algumas coisas embutido na cultura japonesa que eu recebi dos meus pais e eu acabo aplicando isso no dia a dia. Então, o japonês tem, a sociedade japonesa ela tem esse conceito de você viver comunidade, saber viver comunidade harmoniosamente e de sempre de tentar não invadir o espaço do outro, de respeitar o outro também. Então, isso eu acabei encorporando por causa dos meus pais, mas o restante, xingar [RISOS], de como eu me emociono, a impressão que dá é eu sinto como uma brasileira mesmo. Eu sei, por exemplo, quando eu vou para o Japão, eu sei que as pessoas sabem que eu sou estrangeira pelo meu modo de vestir, pelo meu modo também de comportar, de andar. Eles já sacam na hora que eu sou estrangeira. Então, nessas horas, quando eu fui para lá que eu fui percebendo que eu realmente sou brasileira, que eu já perdi aquela coisa japonesa. Então, da última vez que eu fui para o Japão, eu precisava comprar terno, porque eu precisava fazer uma visita para uma faculdade e eu entrei numa loja, normal, assim, uma loja até chiquezinha, tudo, fui entrar e eu peguei e, eu quero taiê, uma calça e eu quero o maior número que você tiver, porque eu sabia que eles tem tamanho menor lá. Não coube. [RISOS] A parte de cima até coube, não fechava direito aqui cima, mas a calça assim não coube. Eu tenho certeza que eu sirvo para ter padrão de beleza do Japão. Quando eu tinha uns 15 anos, quando eu fui para o Japão, o cara da imigração falou: "Você não é japonesa". Que ele olhou para o meu passaporte e tava e japonês, né? E ele: "Você não é japonesa". Ai eu falei: "Não porquê?" [RISOS] "Mas é porque tá na cara, o seu modo de se maquiar". A minha filha, ela foi por motivo para que eu voltasse a me interessar pela cultura japonesa e pela lingua japonesa, porque até então eu queria ser brasileira eu queria esquecer pouco esse lado japonês. Então, o que eu tento passar para a minha filha, acho que é mais aspecto cultural. E a minha filha, como ela foi criada comigo e com a minha mãe, minha mãe só fala japonês, então ela tem a compreensão passiva. Ela escuta, ela entende, mas ela não consegue falar. Então, acho que do mesmo jeito que eu incorporei essa parte cultural de viver comunidade, harmonia, tudo, eu acho que foi isso que a gente acabou passando para ela, porque ela também, ela é bem mais brasileira. [MÚSICA] Arroz e feijão. [RISOS] Feijão, com certeza. Eu levaria numa churrascaria, né? [RISOS] Feijoada, caipirinha. Mas comida, até comida, eu sou quase 100 por cento brasileira, porque eu não gosto de peixe, não gosto de sushi, não gosto de sashimi, meu prato preferido é arroz e feijão. [MÚSICA]